Relato da Prof. Maria Marta Leite
Relato da primeira tutora do PET, Profa. Maria Marta Leite
Boas experiências precisam ser contadas, não só para que a história fique registrada, mas também para incentivar as novas gerações a valorizar iniciativas como essa. Este relato tem como objetivo contar um pouco da história de criação, trabalhos e ações desenvolvidos durante os (quase) cinco primeiros anos de existência do PET Computação da UFSC. Tive a oportunidade de ser tutora deste programa desde sua implantação, em agosto de 1994, até abril de 1999, quando deixei o grupo.
Costumo dizer que minha experiência neste trabalho foi uma das mais gratificantes de minha vida acadêmica. Tive o prazer de conviver diariamente e trabalhar com uma equipe de alunos que são, para mim, excelentes exemplos de cidadãos, profissionais, pesquisadores e, acima de tudo, seres humanos fantásticos. Tive, e mantenho até hoje, uma relação de amizade e carinho com todos e admiro muito suas trajetórias profissionais. O sucesso é uma marca dessa turma.
Agora vamos a um pouco da história. A primeira formação, composta por quatro bolsistas, Alessandra, João Paulo, Jorge e Tatiana tinha uma característica singular: dois dos seus integrantes eram irmãos gêmeos. Com o objetivo de integrar o grupo em uma atividade de pesquisa comum, o tema “Trabalho Cooperativo Auxiliado por Computador” foi escolhido e submetido a apreciação através do primeiro documento de planejamento de atividades do grupo. Apesar da fundamentação sobre as vantagens, naquele momento, da escolha de um tema único de pesquisa, houve certa reação dos avaliadores da CAPES alegando preocupação com o possível encaminhamento do grupo para um “PET Temático”, que não era uma diretriz geral do programa na época. A diversificação de atividades científicas do grupo foi um compromisso assumido e várias outras atividades foram iniciadas e planejadas naquele período neste sentido. Já no decorrer do primeiro ano de trabalho ficou evidente que a pesquisa do grupo era apenas uma atividade a mais dentro de um rol muito grande de possibilidades e exigências definidas nas Normas de Orientação Básica do Programa PET. O documento das Normas, já no início de vida do grupo, era denominado “bíblia” por todos. Ações direcionadas para a interação com corpo docente e discente e o direcionamento das atividades no sentido dos bolsistas atuarem como agentes multiplicadores do conhecimento foram planejadas e executadas.
A partir do segundo semestre de implantação o grupo passou a divulgar junto aos alunos o papel do PET no curso de graduação e as regras definidas para ingresso no programa. Uma conseqüência disto foi a verificação de que muitos alunos do curso, interessados em concorrer a uma vaga no PET, passaram a ter uma preocupação maior com o seu rendimento escolar. Também neste período um destaque pode ser dado a grande troca de experiências dos bolsistas com a participação das reuniões do grupo InterPET – UFSC.
A seleção de bolsistas para o segundo ingresso no grupo ocorreu em junho de 1995 e mais quatro alunos integraram-se ao grupo: Alésio, Luciano, Rodrigo e Sandro. Apesar do grande número de meninos no grupo, na época o curso de Ciência da Computação não refletia essa predominância. A tônica das atividades do segundo semestre de 1995 foi a diversificação. Atividades incluíam desde a preparação de um curso sobre como prevenir-se de vírus de computador, até a participação na implantação de um sistema multimídia para divulgação das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina. Como alguns petianos tinham interesse em ingressar na pós-graduação houve a inclusão de alguns deles em atividades de grupos de pesquisa consolidados no Departamento de Informática e Estatística. Nesta fase o grupo ainda não contava com equipamentos próprios e as necessidades de uso de computadores eram supridas principalmente pelo LISHA – Laboratório de Integração de Hardware e Software. Neste semestre já houve a primeira publicação de um bolsista, como resultado de seu trabalho junto a um professor do INE. Vale creditar também aos bolsistas a preocupação com o amadurecimento de cada um como cidadão. As ações neste sentido incluíram a organização de discussões sobre temas atuais de interesse dos alunos do curso, não só técnicos, mas também sócio-políticos e éticos, denominadas de Reuniões Temáticas.
A integralização do grupo, que passou a contar com doze alunos, ocorreu com a seleção realizada em agosto de 1996, com o ingresso de quatro bolsistas: Aline, Andréa, Elaine e Deucélia. Com a entrada de novos membros as reuniões de acompanhamento das atividades passaram a ser mais longas e mais assuntos eram discutidos. O planejamento de atividades para o ano de 1997 passou a ser anual em função da consolidação do grupo PET – Computação. Uma característica do planejamento de atividades foi a escolha de uma tema para aprofundamento e para direcionar as iniciativas de melhorar a interação com o corpo docente e discente do curso. O tema escolhido para o ano foi “Qualidade de Ensino”. Outra atividade bastante promissora neste sentido foi a denominada “Monitoria Geral”. Nesta atividade os bolsistas disponibilizavam-se a auxiliar os alunos na solução de dúvidas e problemas encontrados nas disciplinas. Isso tornou o grupo mais próximo dos alunos do curso e a sala do PET – Computação passou a ser um ponto de encontro para estudos.
O ano de 1997 foi também muito produtivo em relação a consolidação das atividades referentes a palestras e cursos por parte dos alunos. As iniciativas passaram a estar concentradas em uma semana, denominada Semana da Computação. Assim, neste ano, aconteceu a 1ª. SECCOM – Primeira Semana de Cursos e Palestras da Computação. Além dos alunos do curso, participaram desta primeira edição da SECCOM profissionais externos às UFSC, que procurou a aproximação universidade/empresa.
Mas, no segundo semestre de 1997, os primeiros problemas que quase culminariam com o fechamento dos grupos PET no Brasil começaram. As taxas acadêmicas foram enviadas aos grupos com bastante atraso e este fator quase inviabilizou a realização da SECCOM. O grupo necessitou buscar recursos junto a UFSC para a efetivação de algumas atividades, demonstrando muita vontade e dinamismo, lutando de todas as formas para que seus objetivos fossem cumpridos. Nestas atitudes foi possível constatar o quanto o PET contribuiu para a formação de um cidadão que procura alternativas e luta por seus ideais.
O ano de 1998 foi o ano de luta pela manutenção do programa, na UFSC e em todas as universidades brasileiras. Já no primeiro mês fomos informados sobre o corte de bolsas do programa e o clima de incertezas sobre a sua continuidade se estabeleceu. Em março aconteceu em Florianópolis o 1o. ENPETEN – Primeiro Encontro Nacional de PETs das áreas de Ciências Exatas e da Terra e de Engenharias. Deste encontro, em uma atividade de mesa redonda, participou o então Diretor de Programas da CAPES que, diante de uma plenária de aproximadamente 200 pessoas esclareceu alguns pontos sobre as atitudes da CAPES e assumiu alguns compromissos com a comunidade petiana presente. Ainda em março, em Brasília, ocorreu, e foi noticiada pelos meios de comunicação em âmbito nacional, a Manifestação Nacional Contra o Corte de Bolsas do Programa Especial de Treinamento (PET). Em reunião após essa manifestação, com a presença de dezenas de tutores, petianos, representantes de associações docentes e estudantis de todo o Brasil, foi decidida a reversão do corte das bolsas a que o PET havia sido submetido, embora outros cortes, incluindo taxas de manutenção e auxílio professor visitante, tenham continuado. Passado um mês daquele evento, onde palavras foram empenhadas na busca de um debate construtivo aos rumos do Programa Especial de Treinamento, sequer a Comissão que ali se constituiu foi contatada por parte CAPES. Na época eram aparentes as contradições entre os discursos da Presidência da CAPES e de sua Direção de Programas.
Muitos eventos, reuniões, encontros e viagens foram feitos para manter forte a luta pela manutenção do programa. Foi um ano extremamente difícil e desgastante para todos. Mas, apesar das incertezas, as atividades de 1998 foram planejadas e cumpridas, a 2ª. SECCOM aconteceu em agosto daquele ano, repetindo o sucesso do ano anterior. Em maio aconteceu em Santa Maria – RS o 1ª. SULPET (Encontro dos Grupos PET da Região Sul), com ampla participação de bolsistas e tutores. Nossa mobilização naquele ano não foi em vão, apesar de não termos tido sucesso em todas as nossas reivindicações. Ao final de 1998, depois de um ano muito desgastante, decidi deixar a tutoria do grupo para alguém que desse a ele mais energia para lutar, que já me faltava. Reiterando o que escrevi no início deste relato, essa foi uma das melhores experiências de minha vida acadêmica e, sem dúvida, a mais gratificante. Apesar da enorme carga de trabalho, que me consumia muito mais do que as vinte horas alocadas em minha carga horária, era sempre um prazer trabalhar com uma equipe de alunos tão brilhantes. Tenho dúvidas sobre a possibilidade de concretização de todas as atividades inerentes ao programa se não fosse o grande dinamismo, competência e, principalmente, iniciativa e independência de cada um dos integrantes do grupo. Finalmente, gostaria de agradecer ao professor Luís Fernando Friedrich e aos atuais bolsistas do grupo PET – Computação a oportunidade de relembrar e poder compartilhar com vocês o imenso prazer que tive durante esta experiência e meu grande carinho por esse programa.